O parto humanizado é definido de diversas formas. Há quem defina como um parto que respeita a autonomia e a fisiologia da mulher. Há quem defina como um parto sem intervenções. Há também quem confunda o parto humanizado com um parto necessariamente domiciliar. Ou ainda, há aqueles que acham que é um parto em que não há interferência médica. Há inclusive quem argumente que o termo não tem razão de ser, pois todo parto de mulheres humanas seria humanizado. Independente de estar gramaticalmente correto ou não, quando falamos de parto humanizado, ele carrega um significado extremamente importante, uma vez que surgiu em decorrência de um cenário obscuro na assistência obstétrica: a presença de violência obstétrica. Infelizmente, essa é uma realidade que assombra as mulheres no ciclo gravídico puerperal, assim como a prática de intervenções sem evidências científicas, principalmente as cesáreas sem indicações. Em função disso, diversos movimentos em defesa das mulheres surgiram, culminando em 2018 na publicação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) das recomendações a serem utilizadas pelos profissionais de saúde visando uma experiência de parto positiva. Acredito que essas recomendações coincidam, em sua maioria, com as condutas realizadas nos partos humanizados. De acordo com a OMS, a experiência de parto positiva seria definida como  “uma experiência de parto que preenche ou supera as expectativas e valores pessoais e sócio-culturais, incluindo o nascimento de um bebê saudável em um ambiente clinicamente e psicologicamente seguro com suporte prático e psicológico contínuo pelo acompanhante do parto e um acompanhamento gentil e tecnicamente competente pela equipe de saúde que a está assistindo.” O guia salienta também a importância de um atendimento centrado na mulher para melhorar a qualidade da experiência do trabalho de parto e parto por meio de um atendimento holístico e baseado nos direitos humanos.
Crédito: Cat Fancote / @catfancote.capturingbirth

Entre as recomendações de um parto humanizado, destacam-se:

– Cuidados de maternidade respeitosos, que devem incluir um atendimento organizado para prover a todas as mulheres um atendimento digno, com privacidade e confidencialidade; que garantam a ausência de maus tratos e permitam decisões compartilhadas, suporte contínuo durante o trabalho de parto e parto; – Presença de acompanhante de escolha da paciente durante todo o processo do trabalho de parto e parto; – Comunicação clara e acessível entre a equipe de saúde e a mulher e seu acompanhante; – Não realizar exames e procedimentos desnecessários e que não tenham indicação, como a pelvimetria (medição das dimensões do canal do parto), depilação de pelos pubianos (tricotomia), enema (lavagem intestinal) ou lavagem vaginal; – Evitar a realização de amniotomia de rotina (rompimento da bolsa amniótica por profissional); – Evitar o uso rotineiro de ocitocina e não utilizar agentes antiespasmódicos; – As mulheres devem ter liberdade de escolher as posições que quiserem, bem como ter acesso a métodos não farmacológicos de alívio da dor como massagem, calor local, chuveiros ou imersão na água, música, meditação entre outras; – Para mulheres de baixo risco, a alimentação deve ser permitida; – Realização de anestesia epidural caso a paciente solicite; – Não realizar manobras de pressão no fundo uterino; – Estimular as posições verticais para o momento do nascimento; – Não realizar episiotomias; – Uso de ocitocina profilática para prevenção de hemorragia pós-parto em todas as mulheres; – Realizar o clampeamento tardio do cordão umbilical; – Estimular o contato pele a pele da mãe com o recém-nascido; – Estimular amamentação na primeira hora de vida; – Não afastar o recém-nascido dos familiares. Não há dúvidas que a adoção dessas medidas, entre outras descritas, proporcione uma experiência de parto mais positiva. Além disso, facilita também a conexão do recém-nascido com sua mãe e aumenta a probabilidade da manutenção da amamentação.

Plano de parto: qual a importância e como elaborar?

O plano de parto é um documento que pode ser realizado pelo casal, que descreve a forma como eles desejam que o trabalho de parto e parto ocorra. Trata-se, muitas vezes, de uma forma de proteção que é encontrada no sentido de evitar possíveis intervenções desnecessárias e o acontecimento de alguma forma de violência obstétrica. Ele pode ser extremamente importante para pacientes que não realizarão o parto com a equipe que acompanhou o pré-natal, uma vez que resume a forma como gostaria de ser assistida e identifica medidas que não quer que sejam realizadas. Com a realização de um pré-natal em que essas questões são discutidas e planejadas, muitas vezes tornam o plano de parto desnecessário, mas sabemos que isso está longe de ser rotina. Infelizmente, muitas vezes, a paciente e seu acompanhante não conseguem diálogo com o profissional de saúde que está acompanhando o pré-natal. Cada plano de parto terá as especificações que cada gestante achar importante, mas, geralmente, são as mesmas diretrizes que a OMS preconiza para uma experiência de parto positiva estão presentes nos planos de parto.

Referências para parto humanizado:

WHO recommendations: intrapartum care for positive childbirth experience. Genebra: World Health Organization; 2018. Licence: CCBY-NC-AS 3.0IGO * Por Carolina Maia Médica ginecologista e obstetra formada pela USP, fez a residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela FEBRASGO, mestre em Obstetrícia pelo Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP. Atualmente seu trabalho em consultório é focado no acompanhamento de gestantes durante o pré-natal, parto humanizado hospitalar, puerpério e amamentação.

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Editorial Instituto Ery