O nascimento de um bebê prematuro traz desafios únicos, especialmente no que diz respeito à amamentação. Como o sistema digestivo e o desenvolvimento neuromuscular desses bebês continuam em formação, eles muitas vezes não conseguem mamar diretamente no peito logo após o nascimento, exigindo a alimentação por sonda. No entanto, com o passar do tempo e o apoio adequado, muitos bebês prematuros fazem a transição da sonda ao peito, o que pode ser um processo longo, mas extremamente gratificante.

Neste artigo, exploraremos o processo de alimentação do bebê prematuro, desde os primeiros dias com a alimentação por sonda até o momento em que ele finalmente consegue mamar diretamente no peito. Vamos analisar os principais desafios, as estratégias para facilitar essa transição e a importância do apoio de profissionais de saúde. O objetivo é oferecer um conteúdo informativo e completo tanto para famílias que estão passando por essa experiência, quanto para profissionais que atuam no acompanhamento desses bebês.

1. O Nascimento Prematuro e Suas Implicações na Amamentação

Um bebê é considerado prematuro quando nasce antes das 37 semanas de gestação. Dependendo do grau de prematuridade, ele pode enfrentar uma série de dificuldades, como:

  • Imaturidade pulmonar: O bebê pode necessitar de suporte respiratório, o que interfere no esforço de mamar diretamente no peito.
  • Imaturidade neuromuscular: Bebês prematuros muitas vezes não possuem o reflexo de sucção bem desenvolvido, o que torna difícil a coordenação entre sugar, respirar e engolir.
  • Baixo peso ao nascer: O baixo peso pode tornar o bebê mais vulnerável a complicações e exigir maior tempo de recuperação antes de tentar a amamentação direta.

Esses fatores geralmente tornam necessário o uso de sonda nasogástrica ou orogástrica para garantir que o bebê receba os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. O uso de leite materno, mesmo que administrado por sonda, é altamente benéfico para esses bebês, pois oferece nutrientes de fácil digestão e fatores imunológicos que ajudam a proteger contra infecções.

2. Alimentação por Sonda: Primeiros Dias e Benefícios do Leite Materno

Nos primeiros dias de vida de um bebê prematuro, a alimentação por sonda é geralmente uma maneira segura de garantir que ele receba os nutrientes necessários. A sonda é inserida através do nariz ou da boca e chega diretamente ao estômago, permitindo a alimentação sem que o bebê precise sugar.

Dessa forma, mesmo que o bebê ainda não consiga mamar diretamente no peito ele pode ser alimentado de preferência com o leite materno  que é a melhor opção para sua nutrição. São muitos benefícios e alguns incluem:

  • Melhora no desenvolvimento do sistema imunológico: O leite materno contém anticorpos e outros fatores que protegem o bebê contra infecções, uma preocupação importante para prematuros.
  • Facilidade na digestão: O leite materno é mais fácil de digerir do que fórmulas, o que ajuda a evitar problemas gastrointestinais comuns em bebês prematuros.
  • Apoio ao desenvolvimento neurológico: Nutrientes como o DHA (ácido docosahexaenóico) e a lactoferrina ajudam no desenvolvimento cerebral e na saúde neurológica.

A Importância da Extração de Leite Materno

Durante a fase de alimentação por sonda, é essencial que as mães de bebês prematuros  recebam orientação para manter a produção de leite. Isso pode ser feito com a extração manual ou com o uso de uma bomba elétrica.  A extração de leite deve começar nas primeiras  6 horas após o nascimento e ser mantida a cada 3-4 horas. Esse leite pode ser armazenado para ser  oferecido ao bebê.

Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial ao orientar as mães sobre a adequada extração e o armazenamento de leite, garantindo que a produção seja mantida até que o bebê possa mamar diretamente no peito.

3. Quando Começa a Transição da Sonda ao Peito?

A transição da sonda para o peito depende de vários fatores, incluindo o grau de prematuridade e o estado de saúde do bebê. O momento em que a transição pode começar geralmente é determinado pela avaliação do reflexo de sucção e da capacidade do bebê de coordenar a sucção com a respiração e a deglutição que ocorre em torno de 34 semanas de idade gestacional.

Sinais de que o Bebê Está Pronto para Começar a Transição:

  • Estabilidade respiratória: O bebê precisa ter o controle sobre sua respiração, sem o uso de suporte respiratório invasivo.
  • Reflexo de sucção ativo: O reflexo de sucção deve estar suficientemente desenvolvido para que o bebê consiga extrair leite do peito
  • Capacidade de manter o estado de alerta: O bebê deve ser capaz de permanecer acordado o suficiente para mamar de forma eficaz.
  • Ganho de peso constante: Um bom ganho de peso indica que o bebê está saudável e pronto para iniciar a amamentação diretamente no peito.

4. Métodos de Transição: Da Sonda ao Peito

A transição da alimentação por sonda para o aleitamento materno pode ser um processo gradual e exige paciência. Diversos métodos podem ser utilizados para facilitar essa transição:

a) Método Canguru

O método canguru envolve o contato pele a pele entre a mãe e o bebê. Estudos mostram que o contato pele a pele não apenas ajuda a regular a temperatura do bebê, mas também acelera a maturação neurológica e estimula os reflexos de sucção, além de promover o vínculo entre mãe e filho. Bebês que passam mais tempo no método canguru costumam fazer a transição da sonda para o peito de forma mais rápida e eficaz.

b) Transição Gradual com Sonda Enteral (técnica da mama vazia)

Um método muito eficaz é permitir que o bebê aprenda a mamar no peito ainda quando recebe a alimentação por sonda. Se faz uma transição gradual, a mãe retira o leite e o bebê recebe o leite por sonda enquanto aprende a sugar a mama mais vazia. Isso garante que o bebê receba calorias suficientes enquanto ainda aprende a sugar eficazmente.

c) Copinho

Na ausência da mãe, os bebês prematuros podem ser alimentados com copinho. Essa abordagem inicial ajuda o bebê a desenvolver a capacidade de engolir e coordenar a deglutição e pode ser uma alternativa segura enquanto ele aprende a mamar na mãe.

5. Os Desafios da Transição para o Aleitamento Materno Direto

A transição da sonda ao peito deve ser feita respeitando a capacidade do bebê conseguir se alimentar de maneira eficaz. Os profissionais devem observar a mamada e identificar  possíveis sinais que o bebê ainda não está pronto para ter a sonda retirada::

  • Fadiga: Bebês prematuros se cansam mais facilmente durante a amamentação, o que pode resultar em mamadas curtas e ineficazes.
  • Pega inadequada: Devido à imaturidade neuromuscular, muitos bebês prematuros têm dificuldade em fazer uma pega adequada, o que pode causar dor na mãe e uma baixa ingestão de leite.
  • Ganho de peso lento: Se o bebê não consegue extrair leite suficiente, o ganho de peso pode ser prejudicado. 

6. O Papel dos Profissionais de Saúde no Processo de Transição

Os profissionais de saúde precisam monitorar de perto o bebê durante todo o processo de transição, garantindo que ele esteja recebendo nutrientes suficientes e não corra o risco de desidratação, de desnutrição ou outros problemas.

 Após a alta, as consultoras de amamentação, em particular, desempenham um papel essencial, orientando as mães sobre as técnicas adequadas, identificando dificuldades e ajudando a corrigir problemas de pega.

Apoio Psicológico para a Mãe

O nascimento prematuro e o uso de sonda podem ser uma experiência emocionalmente desafiadora para as mães. O apoio emocional oferecido pelos profissionais de saúde é tão importante quanto o suporte técnico durante a transição. Mães de bebês prematuros muitas vezes precisam de incentivo e apoio psicológico para lidar com o estresse e a ansiedade dessa experiência.

7. Benefícios da Amamentação para o Bebê Prematuro

Apesar da transição sonda peito ser um pouco mais trabalhosa do que o uso da mamadeira, uma vez que o bebê prematuro faz a transição para o aleitamento materno direto, ele corre menos risco de desmame precoce e garante os benefícios do aleitamento materno, entre eles:

  • Melhor desenvolvimento cognitivo: O leite materno contém nutrientes, como DHA, que são essenciais para o desenvolvimento do cérebro, o que é particularmente importante para bebês prematuros.
  • Redução de infecções: O sistema imunológico do bebê prematuro também é mais imaturo e o leite materno ajuda a proteger contra infecções bacterianas e virais. 
  • Apoio ao desenvolvimento emocional: O contato pele a pele e a amamentação promovem um vínculo emocional saudável, essencial para o bem-estar a longo prazo do bebê.

8. Conclusão: Um Caminho Desafiador, mas Recompensador

A transição do bebê prematuro da sonda ao peito é um processo que exige paciência, dedicação e o apoio adequado de uma equipe de profissionais de saúde. Embora possa ser um desafio tanto físico quanto emocional, os benefícios para o bebê e para a mãe são imensos.

Para as famílias, entender cada etapa desse processo é crucial para garantir que o bebê receba o melhor cuidado possível. Para os profissionais de saúde, o conhecimento técnico e o suporte emocional são essenciais para ajudar essas famílias a superar as dificuldades e atingir o sucesso na amamentação.

Se você é mãe de um bebê prematuro, saiba que, com o apoio adequado, seu bebê pode fazer a transição da sonda ao peito e se beneficiar de todos os aspectos positivos da amamentação. Se você é um profissional de saúde, continue oferecendo seu apoio técnico e emocional, pois seu papel é fundamental para o sucesso dessa jornada.

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Criado por:

Editorial Instituto Ery