Atualizado em 09/06/2023

Por Tiemi Yoshida

Pediatra, especialista em Neonatologia e Amamentação/IBCLC

O Teste da Linguinha é fundamental para bebês com anquiloglossia

O que você sabe sobre o Teste da Linguinha? Ele é o responsável por identificar a anquiloglossia e, no Brasil, é parte da rotina de avaliação dos recém-nascidos desde 2014. Esse procedimento segue as recomendações do Ministério da Saúde com o Protocolo Bristol, ou BTAT (Bristol Tongue Assessment Tool), que se baseia na ATLFF (Função do Frênulo Lingual de Hazelbaker). Diante de todos esses termos, é importante, primeiro, entender o que é anquiloglossia e o Protocolo Bristol. Assim, podemos compreender a importância de falarmos sobre essa rotina de maternidade. Para começar, a anquiloglossia, popularmente conhecida como “língua presa” ou “freio curto” ou “frênulo curto”, é uma anomalia congênita que ocorre quando o tecido embrionário permanece na região ventral da língua. No popular, chamamos de língua presa, já que esse tecido está no frênulo lingual.

 

O Protocolo Bristol

Como já vimos no início desse texto, o Teste da Linguinha e, com ele, o Protocolo Bristol se tornaram rotina em 2014 aqui no Brasil. Apesar de não haver consenso na literatura sobre o melhor método para avaliação do frênulo lingual, esse instrumento se adequa muito bem como um teste de triagem em massa dos bebês nas maternidades. Isso porque é simples para aplicar e fornece uma medida objetiva da gravidade da anquiloglossia. Para compreender melhor, temos essa ilustração abaixo, que representa os 4 elementos avaliados no Protocolo Bristol:

1) Aparência da ponta da língua: é considerada uma das principais formas de avaliar a anquiloglossia e é frequentemente percebida pela família.
2) Fixação da extremidade inferior do frênulo: ajuda a avaliar quando a ponta da língua não apresenta muita alteração. O local de fixação, em geral, reflete na aparência da língua com a boca aberta.
3) Elevação da língua com a boca aberta (durante o choro): é o item mais difícil de avaliar porque requer que o avaliador tenha conhecimento sobre a elevação normal da língua do bebê.
4) Protusão da língua:

escore do protocolo bristol para anquiloglossia ou língua presa

Interpretação do Protocolo Bristol

Cada item de avaliação do protocolo Bristol recebe uma pontuação de 0 a 3 e a soma dessa pontuação é o escore final que então pode variar de 0a 8.

Escore 8: normal
Escore 6-7: são considerados limítrofes e recomenda-se a abordagem “espere e siga”, com suporte no manejo da amamentação
Escore 4-5: são considerados duvidosos e sugerem comprometimento da função da língua podendo ou não afetar a amamentação
Escore de 0-3: indicam redução severa da função da língua e potencial comprometimento da amamentação.

 

Qual a conduta frente ao escore de Bristol alterado?

A conduta frente a um recém-nascido com suspeita ou diagnóstico de anquiloglossia deve sempre levar em consideração se essa condição interfere ou não na amamentação. Dessa forma, a avaliação da mamada é indispensável e deve ser realizada rotineiramente.

Os profissionais não devem determinar a necessidade de cirurgia apenas com o exame do frênulo lingual e o escore do Protocolo Bristol alterado. Se a anquiloglossia for grave (escore de 0-3) impossibilitando o recém-nascido de mamar, a decisão por realizar o procedimento cirúrgico, que é chamado de frenotomia, se torna mais fácil. Nos casos moderados, porém, é necessária uma avaliação que vai além da língua alterada do bebê. Ela passa pelo seguimento do binômio, avaliação da mamada e uma avaliação ampla da mãe e do recém-nascido para identificar outros fatores que possam estar dificultando a amamentação. Essa identificação dos problemas de amamentação é um fator essencial para evitar a indicação equivocada de uma cirurgia, a frenotomia.

Na figura abaixo segue o fluxograma, que foi atualizado em 2022, proposto pelo Ministério da Saúde para avaliação e seguimento dos lactentes com anquiloglossia na Rede de Atenção à Saúde (RAS):

Importância da avaliação

A avaliação das causas das dificuldades de amamentação quando o recém-nascido apresenta um frênulo alterado pode ser difícil.  Isso, como já vimos anteriormente, pode resultar em uma intervenção cirúrgica desnecessária. Para se ter uma melhor noção da importância dessas questões, uma pesquisa analisou 153 bebês que foram encaminhados para um centro de referência para realizarem frenotomia. Dos 153 bebês encaminhados apenas 30,1% foram indicados para a realização da frenotomia. Isso só reforça como as equipes de avaliação são um fator determinante para os recém-nascidos que apresentam alguma dificuldade para mamar.  

Conclusão

O Protocolo Bristol é a ferramenta recomendada pelo Ministério da Saúde brasileiro para avaliação da anquiloglossia em recém-nascidos. Além disso é preciso definir se aquele frênulo lingual alterado é a causa do problema de amamentação. Para isso é indispensável  a avaliação da mamada, o manejo clínico das dificuldades de amamentação, a avaliação criteriosa dos sintomas na mãe e bebê para decidir se é o caso de realização de frenotomia.

Mais detalhes da anquiloglossia

Caso queira saber mais seguem referências incluindo a última Nota Técnica do Ministério da Saúde até a publicação deste texto:

MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Saúde Mateno Infantil, Coordenação Geral de Saúde Perinatal e Aleitamento Materno – Nota Técnica Nº 89/2022-CGPAM/DSMI/SAPS/MS

MS, Secretaria de atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Coordenação Geral da Saúde da Criança e Aleitamento Materno – Nota técnica Nº 35/2018

Ingram J, Johnson D, Copeland M, et al. The development of a tongue assessment tool to assist with tongue-tie identification. Arch Dis Child Fetal Neonatal. Ed 2015;100:F344-F348.

Diercks GR, Hersh CJ, Baars R, Sally S, Caloway C, Hartnick J. Factors associated with frenotomy after a multidisciplinar assessment of infants with breastfeeding difficulties. International Journal of Pediatric Otohinolaryngology 2020.

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Criado por:

Tiemi Marli Yoshida

Pediatra, Neonatologista, Especialista em Aleitamento Materno/IBCLC
Sócia da Casa Curumim e Fundadora do Instituto Ery