Em primeiro lugar gostaria de esclarecer a nomenclatura. É muito comum utilizarmos o termo “complemento” para nos referirmos ao uso de fórmula infantil além da mamada ao seio materno ou quando oferecemos leite materno ordenhado. Segundo a classificação de tipos de aleitamento materno da Organização Mundial da Saúde (OMS), a nomenclatura seria Aleitamento materno misto ou parcial para o primeiro caso e Aleitamento materno exclusivo para o segundo.

 

De qualquer forma, neste texto, vou tratar sobre o termo “complemento” como sendo o uso de fórmula infantil ou leite materno ordenhado. Irei abordar ainda quando indicar o uso e quais as técnicas para administração do complemento.

Quando é necessário complementar o leite materno?

O primeiro ponto sempre é avaliar a possibilidade de ordenhar leite materno para ser oferecido ao bebê. Quando ele estiver disponível, priorizar a sua administração em relação à fórmula. Não sendo possível, a complementação da amamentação com fórmula infantil pode ser indicada nas seguintes situações:

A decisão de complementar a amamentação deve ser tomada com a ajuda de um profissional de saúde que pode avaliar a situação e recomendar a melhor opção para o bebê. Em muitos casos, a complementação com fórmula ou leite materno ordenhado pode ser temporária e o bebê pode voltar a se alimentar exclusivamente ao seio materno após um tempo.

 

É importante lembrar que a amamentação é um processo complexo e a complementação deve ser usada como uma solução temporária e sob orientação médica. A mãe deve ser encorajada a continuar amamentando e a buscar ajuda profissional para resolver qualquer problema que possa estar afetando a amamentação.

 

Ainda, gostaria de colocar uma situação que muitas mães perguntam: “Posso dar seio materno durante o dia e fórmula à noite para descansar?” ou “Posso intercalar leite materno com fórmula?”. Sempre pondero que nestas situações a mama ficará muito tempo sem ser estimulada e haverá também uma diminuição da demanda de leite materno levando a grande risco de baixa produção de leite. Nesses casos sempre conversar bastante com os pais, acolher, informar riscos, ajudar a pensar no porque a amamentação está “pesada” demais, dar alternativas e aceitar a decisão materna.

Como complementar a amamentação?

Para administrar o leite materno ordenhado ou fórmula infantil ao bebê devemos evitar o uso de mamadeira que pode levar a “confusão de bico” e ao desmame. Existem várias maneiras de oferecer leite ao bebê sem precisar usar uma mamadeira. Aqui estão algumas opções de  técnicas de complementação: 

Relactação ou translactação:

Consiste em colocar o leite em um recipiente abaixo das mamas e o uso de uma sonda nasogástrica nº 4, de preferência ao invés da nº 6, ou um relactador. A ponta da sonda com “furinhos” fica junto ao mamilo, podendo fixar com micropore na pele, e a outra extremidade dentro do recipiente. Ao realizar a pega o bebê deve abocanhar a aréola e a sonda junto. Dessa forma, conforme o bebe suga ele extrai o leite do recipiente através da sonda e ao mesmo tempo estará estimulando a mama.

Técnica do Copinho

É uma boa alternativa para alimentar o bebê quando o seio materno não for possível.

Segue um passo a passo da técnica:

  • Utilizar copo com a boca larga
  •  colocar leite pela metade. 
  • Colocar o bebe semi sentado no colo do cuidador e apoiar a nuca e costas com a mão mantendo a cabeça alinhada com o tórax e não curvar as costas. 
  • Posicionar a borda do copo entre o lábio inferior do bebe e a língua, de forma que a língua possa se projetar para dentro do copo e as bordas se apoiem no canto da boca. 
  • deixar o leite tocar o lábio do bebe. 
  • Inclinar o copo quando o bebe pedir leite de forma que o bebe tome o leite com lambidas ou como um “gatinho”. 
  • Atenção: dê pausas quando o bebe pedir e não despeje o leite para dentro da boca do bebe para ele não engasgar.

Assista o vídeo abaixo, da Sociedade Brasileira de Pediatria, para entender melhor essa técnica.

Colher

A colher é outra opção que pode ser usada para oferecer leite ao bebê. Escolha uma colher pequena e com bordas arredondadas para evitar ferir a boca do bebê.

Finger feeding

Técnica onde é fixada uma sonda nasogástrica ao dedo mínimo do profissional ou cuidador e a outra extremidade no recipiente com leite ou seringa. A sua utilização para alimentação do bebê é controversa sendo mais utilizada durante a realização de exercícios orais, por exemplo na disfunção oral,  para estimular a sucção do bebê.

Sonda orogástrica ou nasogástrica

Utilizada nos casos de bebês que não podem se alimentar pela boca como prematuros extremos, bebês muito doentes internados em UTI. É inserida uma sonda pela narina ou pela boca do bebê que chega ao estômago e o leite é administrado através desta sonda.

 

Independentemente do método escolhido, é importante lembrar que o objetivo principal é garantir que o bebê esteja recebendo os nutrientes necessários para crescer e se desenvolver adequadamente.

Posts Relacionados

Criado por:

Tiemi Marli Yoshida

Pediatra, Neonatologista, Especialista em Aleitamento Materno/IBCLC
Sócia da Casa Curumim e Fundadora do Instituto Ery