Durante o puerpério e a lactação
É comum que mães relatem desconforto, inchaço ou até nódulos nas axilas ou em regiões incomuns ao redor do tórax. Em muitos desses casos, trata-se de tecido mamário ectópico ou acessório — uma condição pouco discutida, mas importante para o acompanhamento clínico de puérperas e lactantes.
O que são mamas acessórias?
As chamadas mamas acessórias referem-se à presença de tecido mamário localizado fora do par habitual de mamas, geralmente ao longo da linha mamária embrionária, que vai das axilas até a virilha. Esse tecido pode incluir:
- Glândulas mamárias ectópicas completas (com ductos e possibilidade de lactação);
- Tecidos mamários sem ductos mamilares (mais comuns);
- Papilas mamárias (mamilos) acessórios, com ou sem aréola.
Essa condição é conhecida como polimastia (quando há tecido glandular) e politelia (quando há mamilos acessórios).
Estima-se que entre 1% e 6% da população possa apresentar alguma forma de tecido mamário acessório. Embora muitas vezes seja assintomático, durante a gestação e o puerpério pode aumentar de volume, tornar-se doloroso e até produzir leite devido à ação da prolactina.
A importância clínica: diagnóstico e diferenciação
Durante o aumento da vascularização mamária e o início da lactogênese II, o tecido mamário acessório pode se tornar evidente pela primeira vez. Muitas mulheres relatam:
- Aumento de volume em uma ou ambas as axilas;
- Dor e sensibilidade;
- Formação de nódulos confundidos com linfonodos;
- Secreção láctea em regiões incomuns;
- Desconforto estético e funcional.
A Cauda de Spence é uma projeção normal do tecido mamário que se estende em direção à axila, podendo também se tornar edemaciada ou dolorosa. É essencial diferenciar entre:
- Cauda de Spence hipertrofiada;
- Tecido mamário ectópico verdadeiro;
- Lipomas, linfonodomegalias, abscessos ou massas malignas.
Dica clínica: a ultrassonografia de partes moles pode auxiliar na confirmação da natureza do tecido. Em casos complexos, pode ser necessária biópsia para afastar carcinoma — raro, mas possível.
O impacto na amamentação
Embora o tecido acessório não esteja funcionalmente ligado ao complexo mamilo-aréola, ele pode responder aos hormônios da lactação e produzir leite, o que pode resultar em:
- Ingurgitamento localizado;
- Desconforto ou dor nas axilas;
- Risco de mastite no tecido ectópico;
- Necessidade de manejo clínico para alívio dos sintomas.
Importante: o leite produzido por esse tecido não tem via de drenagem eficaz, o que aumenta o risco de complicações locais, como abscessos.
Manejo clínico e estratégias de cuidado
O manejo deve ser individualizado, visando o conforto da mãe e a prevenção de complicações. Algumas estratégias incluem:
1. Massagem terapêutica delicada
Auxilia na redução do edema e desconforto. A massagem deve ser leve e direcionada, evitando trauma e inflamação.
2. Compressas frias
Aplicação de compressas geladas ou bolsas frias pode aliviar a dor e o inchaço.
3. Folhas de repolho
Embora com evidência científica limitada, é amplamente usado como recurso popular para alívio do edema. Deve ser usado com cautela e por tempo limitado.
4. Monitoramento contínuo
É importante acompanhar a evolução clínica. Nos casos abaixo, deve-se encaminhar:
- Massa persistente ou endurecida após o puerpério;
- Sinais inflamatórios que não melhoram;
- Secreção purulenta ou com odor fétido;
- Suspeita de malignidade ou crescimento rápido;
- Solicitação da paciente por questões estéticas ou desconforto crônico.
Considerações finais para profissionais
A identificação e acolhimento de mulheres com tecido mamário ectópico são fundamentais para o cuidado integral. É preciso informar, desmistificar e orientar sem alarmismo, mas com atenção clínica.
Muitas mulheres só descobrem esse tecido quando surgem sintomas. Uma escuta qualificada, exame físico respeitoso e conhecimento atualizado garantem segurança e tranquilidade durante a amamentação.
Crédito das imagens: Legendairy Milk
Posts Relacionados
Criado por:
