Em uma sociedade que ainda romantiza a maternidade e espera que mães sejam fortes, resilientes e disponíveis o tempo inteiro, é urgente falar sobre Saúde Mental Materna — e é exatamente esse o convite do movimento Maio Furta-Cor.
Criada como uma campanha aberta, sem fins lucrativos e movida majoritariamente por mães, a ação propõe visibilidade, mobilização e transformação social em torno de um tema que é muitas vezes negligenciado: o adoecimento psíquico de mulheres no ciclo gravídico-puerperal.
Este artigo é um convite para mães, famílias, profissionais da saúde e toda a sociedade refletirem, se sensibilizarem e atuarem na construção de uma rede real de apoio e acolhimento para quem cuida.
O que é o Maio Furta-Cor?
O Maio Furta-Cor é uma campanha brasileira que surgiu com o propósito de dar luz à saúde mental materna. Mais do que uma mobilização simbólica, é um chamado coletivo à responsabilidade compartilhada — porque ninguém deveria enfrentar a maternidade sozinha.
O nome “furta-cor” não é por acaso. Ele simboliza a multiplicidade de vivências da maternidade, com suas alegrias, dores, ambivalências e contradições. A cor que muda de acordo com a luz nos convida a olhar para a experiência materna com mais nuance e menos julgamento.
Com um exército de representantes locais — em sua maioria mulheres e mães (cerca de 86%) — o movimento se espalha por diversas regiões do país, organizando eventos, rodas de conversa, caminhadas, debates e ações formativas. Tudo feito por mãos maternas e corações pulsantes de cuidado.
Por que falar sobre saúde mental materna é urgente?
Você já se sentiu sozinha, mesmo estando cercada de pessoas? Já chorou no banho para não assustar seus filhos? Já sentiu que todos esperam que você dê conta de tudo, mas ninguém pergunta como você está de verdade?
Essas são realidades comuns na vida de muitas mães. O sofrimento psíquico no puerpério, a sobrecarga invisível, o isolamento e o sentimento de culpa fazem parte de um cenário muito mais amplo: um sistema que adoece quem cuida.
Problema estrutural, não individual
O adoecimento mental de mães não é fruto de fraqueza ou falha pessoal. Ele é consequência de um modelo social que:
- Não oferece apoio efetivo após o parto;
- Espera perfeição e entrega total da mãe;
- Silencia as dores maternas;
- Não divide o cuidado de forma justa com outros atores — como pais, famílias, Estado e comunidade.
O burnout materno, a exaustão crônica, a solidão e o medo de não ser suficiente são expressões de um ambiente que cobra tudo das mães e oferece quase nada em troca.
A ausência da aldeia
Há um ditado africano que diz: “É preciso uma aldeia para criar uma criança.” Mas onde está essa aldeia quando uma mãe precisa descansar, ser ouvida ou chorar?
A ausência de rede, escuta, descanso e suporte prático torna o pós-parto um campo vulnerável ao sofrimento mental. E o impacto disso não recai apenas sobre a mulher — ele atravessa a família inteira e reverbera no desenvolvimento das crianças.
Atenção: não é a mãe que prejudica o bebê.
É a falta de suporte à mãe que compromete o vínculo, a saúde emocional e o desenvolvimento infantil.
O problema está na negligência institucional, na omissão paterna e no silêncio coletivo.
Maio Furta-Cor 2025: Tema e Direção
Para o ano de 2025, a campanha traz como tema:
“Saúde Mental Materna: um direito de todas.”
Esse direcionamento reforça o compromisso com a inclusão, a equidade e a justiça reprodutiva, exigindo que a saúde mental das mães seja reconhecida não como privilégio, mas como direito humano e dever coletivo.
As ações previstas incluem:
- Mobilizações comunitárias em diversas cidades;
- Eventos formativos para profissionais de saúde;
- Produção de materiais educativos e informativos;
- Pressão por políticas públicas efetivas, cultura de cuidado e valorização da escuta empática.
O papel dos profissionais de saúde
Se você é médico, enfermeira, psicólogo, doula, terapeuta ou atua na assistência perinatal, seu papel é essencial nessa transformação.
A campanha convoca profissionais a:
- Reconhecer os sinais de sofrimento materno precocemente;
- Oferecer acolhimento sem julgamento;
- Orientar sobre direitos, recursos e redes de apoio disponíveis;
- Lutar por mais formação em saúde mental perinatal em seus ambientes de atuação;
- Ampliar o diálogo entre a clínica e os determinantes sociais da saúde.
Cuidar da saúde mental de quem cuida não é um luxo, nem uma escolha pessoal.
É uma necessidade coletiva e um compromisso ético com o futuro.
E as famílias? Qual o seu papel?
Cuidar da saúde mental materna não é papel só do SUS, nem só da mãe. É da família. Do parceiro ou parceira. Da empresa. Da sociedade.
A campanha também propõe uma mudança cultural urgente:
- Divisão justa do cuidado entre todos os adultos responsáveis;
- Fim da romantização da maternidade idealizada e inalcançável;
- Valorização da mãe real — com medos, limites e vulnerabilidades;
- Criação de redes de apoio tangíveis, acessíveis e eficazes.
Conclusão: saúde mental materna importa — e é de responsabilidade coletiva
O Maio Furta-Cor nos lembra que a transformação não virá apenas da força de vontade individual das mães. Ela precisa vir de todos os lados: cultura, políticas públicas, prática clínica, comunicação e comunidade.
A saúde mental de quem materna afeta toda a sociedade. É um tema de interesse público. É sobre infância, família, trabalho, cidadania e futuro.
Se isso te tocou, compartilhe essa ideia, esse texto, essa causa.
Junte-se ao movimento.
Dê nome às dores. Exija mudança.
Porque nenhuma mãe deveria adoecer por falta de apoio.
E nenhuma sociedade que silencia quem cuida pode se considerar saudável.
Maio Furta-Cor é sobre empatia, ação e reconstrução. Vem com a gente.
Posts Relacionados
Criado por:
