Amamentar é, sem dúvida, uma das experiências mais ricas e naturais que marcam a chegada de um bebê. Porém, junto com a beleza desse processo, surgem dúvidas e medos – e entre os mais comuns está o engasgo ou a regurgitação durante ou após a mamada.
É natural que pais e cuidadores se assustem quando veem o bebê tossindo, cuspindo leite ou apresentando refluxo aparente. Para os profissionais da saúde, essas queixas são frequentes em consultório, e é fundamental saber tranquilizar as famílias, ao mesmo tempo em que se mantém atento a sinais de alerta.
Neste artigo, vamos esclarecer o que é esperado, quando se preocupar e como lidar com essas situações de forma segura e acolhedora.
O que é esperado: quando o engasgo é parte do processo normal
Nos primeiros meses de vida, o sistema digestivo e a coordenação motora do bebê estão em pleno desenvolvimento. O ato de mamar exige que ele faça uma coordenação complexa entre sucção, deglutição e respiração — e nem sempre esse processo é totalmente sincronizado nos recém-nascidos.
Além disso:
- Bebês têm um reflexo de gag (engasgo) muito sensível, que serve como proteção natural contra a entrada de leite nas vias respiratórias.
- O reflexo de ejeção forte da mãe (quando o leite sai em jato) pode provocar episódios em que o bebê tosse ou se engasga momentaneamente.
- O esfíncter esofágico inferior é imaturo, o que facilita o refluxo fisiológico – aquele famoso “golfar” após as mamadas.
✅ Importante tranquilizar: Esses episódios geralmente são passageiros e não causam danos se o bebê continua ganhando peso, está alerta, e não apresenta desconforto excessivo.
Quando acender o sinal de alerta?
Embora muitos engasgos e regurgitações sejam benignos, há situações que requerem avaliação médica mais detalhada. Atenção especial deve ser dada se houver:
- Engasgos frequentes e intensos, com episódios de cianose (coloração arroxeada) ou dificuldade em retomar a respiração;
- Sinais de aspiração, como tosse persistente após mamar ou infecções respiratórias repetidas;
- Bebê que parece estar sempre desconfortável, chora muito após mamar, arqueia o corpo ou recusa o peito;
- Regurgitações intensas associadas a baixo ganho de peso ou perda de peso;
- História de apneia (pausas na respiração) ou engasgos durante o sono.
Nesses casos, o bebê pode precisar de uma investigação para descartar condições como:
- 🔬 Alergia à proteína do leite de vaca (APLV);
- 🔬 Refluxo gastroesofágico patológico;
- 🔬 Fissuras palatinas submucosas;
- 🔬 Disfunções neurológicas ou dificuldades de deglutição.
👉 Para profissionais: Uma avaliação multidisciplinar, incluindo fonoaudiólogos e pediatras especializados, pode ser necessária para investigar a origem dos episódios.
Manejo clínico e orientações práticas
✅ Para episódios benignos:
- Posição da mãe e do bebê: Ajustar a posição pode ajudar bastante. Mamar em uma postura mais vertical (ex: posição “biológica” ou semi-reclinada) favorece a deglutição coordenada.
- Controle do reflexo de ejeção forte: Iniciar a mamada com compressão manual leve pode aliviar a pressão do leite antes de oferecer o peito ao bebê.
- Pausa para arrotar: Fazer pequenas pausas para o bebê arrotar pode reduzir o volume de leite que retorna.
✅ Para refluxo fisiológico:
- Manter o bebê em posição ereta por cerca de 20 a 30 minutos após as mamadas;
- Evitar compressão abdominal (roupas ou fraldas apertadas).
🚩 Para profissionais: É crucial distinguir entre refluxo fisiológico (esperado) e refluxo patológico. Investigações com exames só são indicadas se houver sinais de alarme clínico.
E quanto ao uso de medicamentos?
Nos casos de refluxo fisiológico, não há indicação de medicação. A recomendação atual é que antiácidos e bloqueadores de ácido gástrico só sejam usados com diagnóstico confirmado de refluxo patológico, já que esses medicamentos têm riscos e possíveis efeitos adversos.
Conclusão: informação e apoio são a chave
Para famílias: Se o seu bebê apresenta engasgos ou refluxo aparente, respire fundo. Na maioria das vezes, é uma fase de adaptação natural. Observar o bebê como um todo (peso, disposição, sinais de bem-estar) é mais importante do que focar apenas em episódios isolados.
Para profissionais: Ouvir atentamente, acolher as preocupações e saber diferenciar o normal do patológico é essencial para evitar alarmismos desnecessários e, ao mesmo tempo, garantir segurança para a família.
Quando há parceria entre informação de qualidade e escuta empática, bebês e famílias enfrentam esses desafios com muito mais tranquilidade e confiança. 💙
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