“Voltar a trabalhar três dias após o parto foi a parte mais difícil da minha vida.”
Essa frase poderia ser de muitas mulheres brasileiras. Mães que não aparecem nas estatísticas oficiais de licença-maternidade, porque não têm carteira assinada. Trabalhadoras informais, autônomas, microempreendedoras — que não contam com o direito a 120 dias de afastamento remunerado e, mesmo assim, precisam alimentar, cuidar e proteger seus bebês.
Enquanto parte das mães consegue viver o puerpério em casa, com redes de apoio e mais segurança, muitas outras retornam ao trabalho quando ainda estão com pontos da cesárea, com o peito dolorido e o corpo pedindo descanso. Essa é a maternidade invisível. E o impacto disso na amamentação — e na saúde do bebê e da mãe — é profundo.
O início da amamentação: o que diz a ciência
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno exclusivo deve ser mantido até os 6 meses de vida e, de forma complementar, até os 2 anos ou mais. O leite materno é o alimento mais completo e seguro para o bebê. Além de conter os nutrientes ideais, ele protege contra infecções e fortalece o vínculo afetivo.
Por isso, o início da amamentação é considerado um período crítico: é quando o bebê aprende a mamar e o corpo da mulher se adapta à nova rotina. Interromper esse processo precocemente pode dificultar a manutenção do aleitamento e levar ao desmame precoce — que, segundo estudos, está relacionado ao aumento de doenças respiratórias, gastrointestinais e até ao menor desempenho cognitivo da criança.
Amamentar e trabalhar: realidade distante para muitas mães
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante à maioria das mães trabalhadoras formais 120 dias de licença-maternidade, podendo ser estendida por mais 60 dias em empresas cadastradas no programa Empresa Cidadã. Também é assegurado o direito a dois intervalos diários de 30 minutos para amamentar, até que o bebê complete 6 meses de vida.
Mas essa não é a realidade de todas.
Uma em cada três mulheres brasileiras atua na informalidade, segundo dados da PNAD (2022). E, nessa condição, não há afastamento garantido nem estabilidade. Há casos em que mães voltam ao trabalho em menos de uma semana após o parto. Voltam por necessidade. Voltam porque não têm escolha.
E como continuar amamentando assim?
“Eu precisava trabalhar para manter minha renda. Só conseguia amamentar de madrugada.”
Relatos como esse são frequentes. A falta de tempo, de espaço para ordenhar o leite e o medo de perder o emprego levam muitas mães a oferecer fórmula infantil antes do tempo. Não por escolha, mas por sobrevivência.
Quando falamos de mães microempreendedoras, o cenário é semelhante. Mesmo com mais flexibilidade, essas mulheres são responsáveis pela própria renda e, muitas vezes, pelo funcionamento da casa, do negócio e do cuidado com o bebê. A sobrecarga é real. E a solidão, também.
O papel do ambiente de trabalho no apoio à amamentação
É urgente que empresas e gestores entendam que apoiar a amamentação não é um “agrado”, é uma responsabilidade social. Espaços adequados para ordenha, horários flexíveis, acolhimento emocional e informação podem fazer toda a diferença.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça que a manutenção da amamentação após o retorno ao trabalho é possível quando a mãe tem apoio para ordenhar e armazenar o leite com segurança. Também é importante que a família e os cuidadores estejam alinhados com essa decisão, para evitar o uso precoce de mamadeiras e bicos artificiais, que podem atrapalhar a pega e confundir o bebê.
Como lidar com o retorno ao trabalho e manter a amamentação?
- Converse com seu pediatra e equipe de saúde:
Avaliem juntos a melhor estratégia para você e seu bebê. O plano pode incluir ordenha, introdução de copinhos e armazenamento seguro do leite. - Crie uma rotina antes de voltar ao trabalho:
Teste o uso do copinho com alguém de confiança, experimente horários para ordenha e verifique o tempo de conservação do leite. - Use ferramentas para facilitar sua rotina:
Bolsas térmicas, potes esterilizados e aplicativos de lembrete podem ajudar a manter a organização. - Seja gentil com você:
Nem sempre será possível manter o aleitamento exclusivo. E está tudo bem. O mais importante é que você se sinta segura e acolhida nas decisões. - Busque apoio em grupos ou redes de mães:
Trocar experiências pode trazer acolhimento e novas soluções.
O que o Instituto Ery acredita
Aqui no Instituto Ery, acreditamos que a maternidade precisa ser descomplicada, informada e possível. Sabemos que nem toda mãe terá o cenário ideal para viver os primeiros meses com o bebê em casa, com tempo e tranquilidade. Por isso, nosso compromisso é com a informação segura e acolhedora — para que cada mulher possa tomar decisões conscientes e realistas, sem culpa.
A maternidade é cheia de nuances. Não existe uma regra única. O importante é saber que você não está sozinha.
Fontes e Referências
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
Recomendação de amamentação exclusiva até os 6 meses de vida e continuada até os 2 anos ou mais.
OMS – Breastfeeding - Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Recomendações sobre aleitamento materno, retorno ao trabalho e conservação do leite.
SBP – Aleitamento Materno - Cartilha “Aleitamento materno e trabalho: é possível manter?”
Disponível em materiais do Ministério da Saúde e instituições parceiras. - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD – IBGE, 2022)
Dados sobre a informalidade entre mulheres brasileiras.
IBGE – PNAD Contínua 2022 - Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da Primeira Infância
Detalha os direitos da mulher trabalhadora e o papel das empresas no apoio à amamentação.
Planalto – Marco Legal da Primeira Infância - Ministério da Saúde – Manual da Mulher Trabalhadora que Amamenta
Informações práticas e legais para mulheres em situação de retorno ao trabalho.
Manual da Mulher Trabalhadora e Amamentação (PDF) - Unicef Brasil
Campanhas de incentivo à amamentação e apoio às mães em contextos vulneráveis.
UNICEF – Amamentação
Imagens: Sarah Chai @ pexels / OpenAI
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