A semana mundial de aleitamento materno comemora a sua 31ª edição com o tema: A mulher que amamenta e trabalha, como fazer a diferença. Mas para garantir trabalho e uma amamentação adequada com todos seus benefícios para a mãe e a criança precisamos atuar em diferentes frentes. A mulher precisa de receber apoio e ajuda consistente de vários setores da sociedade. Nessa matéria vamos conhecer um pouco mais sobre a semana mundial e de como podemos contribuir para que a mãe possa mesmo trabalhando superar os desafios e amamentar seu bebê com sucesso.

1 - O que é a semana mundial de aleitamento materno?

A semana mundial de aleitamento materno acontece todos os anos desde 1992 sempre na primeira semana de agosto. É uma ação conjunta internacional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e de seus parceiros, a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (WABA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) com a parceria dos países signatários que através de seus órgãos oficiais e de instituições governamentais de saúde , realizam ações que tem por finalidade promover, proteger e apoiar a amamentação.

2 - O que é o agosto dourado?

No Brasil, desde 2017, além da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), o apoio à amamentação é promovido durante todo o mês de agosto. A Lei Nº 13.435, instituiu o mês como Mês do Aleitamento Materno, que ficou sendo conhecido como Agosto Dourado em menção à cor que simboliza o padrão ouro de qualidade do leite humano.  As ações que trabalham o tema da semana mundial se estendem por todo o mês.

3 - Histórico da SMAM:

No período pós segunda guerra mundial, várias ações internacionais foram desencadeadas com a finalidade de melhorar a condição da humanidade. Em 1948, foi fundada a Organização Mundial da Saúde, e a partir desse momento as questões de saúde dos povos ficaram com uma coordenação global. Na época existia uma grande preocupação com as altíssimas taxas de mortalidade infantil e se buscavam meios para melhorar essa situação. Várias ações foram realizadas, mas somente em 1990 com a promulgação da chamada “Declaração de Innocenti”, um documento redigido em um encontro de representantes de vários países que aconteceu Trieste na Itália para discutir as ações para o aleitamento materno como forma de reduzir a mortalidade infantil, houve finalmente uma proposta de ações que pudesse mudar esse quadro catastrófico.  O documento que nasceu da articulação entre OMS e Unicef, foi assinado por organizações governamentais e não-governamentais de todo o mundo, incluindo o Brasil.

A Declaração de Innocenti, fundamentou uma articulação internacional para que a promoção da amamentação fosse desencadeada. A implementação da estratégia “10 passos para o sucesso da amamentação”, implantação de um Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno e a atuação na esfera legal em defesa da mulher e do direito de amamentar.

A WABA, Aliança Mundial de Ação pró-amamentação foi fundada em 1991 ficou como responsável pela coordenação internacional das ações que promoveriam a amamentação culminado com o nascimento da primeira semana mundial de aleitamento materno em 1992. No Brasil, desde 1999, os eventos são coordenados pelo Ministério da Saúde que é responsável pela adaptação do tema para a realidade do Brasil e distribuição de material. Com a parceria das secretarias de saúde dos estados e dos municípios a divulgação é realizada e é oferecido apoio às maternidades e unidades de saúde no planejamento e execução das ações planejadas.

Desde então todos os anos é celebrada, sempre na primeira semana de agosto. A cada ano um tema é proposto para ser trabalhado. Atualmente, mais de 170 países registram ações da Semana Mundial de Aleitamento Materno em seu território. Desde a primeira edição em 1992 que discutiu a IHAC – Hospital Amigo da Criança, a WABA tem proposto ações em temas como o direito de amamentar, fortalecimento da NBCAL, o local de trabalho, sustentabilidade, tecnologia, educação, saúde e em várias edições pontua a responsabilidade de todos no sucesso da amamentação.

4 - Semana Mundial de Aleitamento materno de 2023

Nesse ano comemoramos a 31ª edição com o tema: Apoie a amamentação: faça a diferença para mães e pais que trabalham e mais uma vez o tema chama a atenção para a responsabilidade de todos. Amamentar não é de maneira alguma um ato isolado que somente diz respeito a quem amamenta. Para que a amamentação dê certo é necessária uma rede de suporte em vários níveis. Abaixo discutimos alguns dos níveis de apoio para a mulher que amamenta e trabalha.

4.1 - Nível governamental

O Brasil precisa ainda avançar nas suas políticas de proteção à mulher que amamenta, mas já conta com uma legislação que garante alguns direitos básicos. 

  1. Licença-maternidade:  A lei atual prevê 120 dias de licença das atividades profissionais para a mãe. Desde 2008, o Programa Empresa Cidadã estende tal licença em até seis meses, mas infelizmente, este projeto ainda está longe de atingir todas as empresas do país. Além disso, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos especiais de meia hora cada um com a finalidade de amamentar o bebê ou retirar o leite materno até que o bebê complete 6 meses de vida.
  2.  Licença-paternidade:  a Lei prevê 5 dias para o pai, a contar a partir do primeiro dia útil após o nascimento. Prevê também uma extensão de até 15 dias, totalizando 20 dias se a empresa fizer parte do Programa Empresa Cidadã.
  3.  Outras políticas governamentais que favorecem a amamentação:  Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), os Bancos de Leite Humano (BLHs), a Unidade Básica Amiga da Amamentação (IUBAM), a Rede Amamenta e Alimenta Brasil e a Mulher Trabalhadora que amamenta, sala de apoio à amamentação nas empresas.

Esses programas, ainda que necessitem de melhoras dão algumas garantias importantes para a mulher que está inserida em um trabalho formal. No entanto, o último censo mostrou que 40% dos trabalhadores estão sem registro e desse número grande parte é composto por mulheres. Sem trabalho formal, sem direitos. Pela necessidade de trabalhar e sem direito a licença maternidade, as mães tem deixado seus bebês cada vez mais cedo nas creches. No ano de 2022 na cidade de São Paulo havia 3.741 bebês com menos de quatro meses matriculados nas creches da rede municipal. Desses, 63 com menos de 30 dias de vida e 539 com menos de 60 dias. Esse fato escancara a necessidade de uma política social para amparar a mãe que amamenta e está fora do mercado de trabalho, permitindo assim que possa amamentar e oferecer uma condição mais justa para seu bebê. 

4.2 - Maternidades

a) O momento do nascimento e os primeiros dias de vida são fundamentais para que a amamentação possa se iniciar de uma maneira adequada. O Brasil possui 340 Hospitais amigos da criança. Esses hospitais trabalham com ações facilitadoras para o aleitamento materno. No entanto, mesmo maternidades e hospitais que não são amigos da criança podem e devem adotar práticas de aleitamento materno que permitam que as mães posam iniciar o processo de maneira adequada e possam receber orientações acertadas para que a amamentação se mantenha com sucesso.

4.3 - Unidades básicas de saúde, clínicas e consultórios de pediatria

O profissional de saúde que recebe a família deve utilizar de suas habilidades de comunicação para ouvir a família e identificar problemas ou possíveis riscos de desmame. Observar a mamada, tirar as dúvidas, desaconselhar práticas inadequadas como o uso da chupeta que atrapalham a amamentação, valorizar o esforço da mulher e elogiar sua dedicação.  O profissional de saúde pode ajudar a mãe e a família a organizar a volta ao trabalho, orientar sobre a retirada do leite, armazenamento e a oferta segura para o bebê. Devem reconhecer o esforço da mulher e valorizar a sua decisão em continuar a amamentar. Reforce os benefícios do aleitamento materno para bebê e elogie o que ela vem fazendo. Acolha.

4.4 - No local de trabalho

Como empregador é importante se reconhecer como corresponsável pela manutenção da amamentação. Além dos direitos garantidos por lei, o empregador pode ajudar a mulher de várias maneiras. Pode por exemplo, flexibilizar o horário de entrada e saída. Pode também, se for possível, facilitar o home office. A empresa pode implantar uma sala de coleta de leite materno ou mesmo organizar um local privado onde ela possa retirar e armazenar o leite para seu bebê. Elogiar o esforço que ela está fazendo para manter a amamentação é sempre um ponto importante. Uma revisão sistemática revelou que as intervenções no local de trabalho a nível individual, interpessoal e organizacional podem ser importantes para proteger, promover e apoiar o aleitamento materno entre mães trabalhadoras

4.5 - Creches.

Deixar o bebê aos cuidados de terceiros sempre é dolorido para uma mãe. A creche pode facilitar esse momento, mantendo uma prática de acolhimento, tranquilizando a mãe em relação aos cuidados com o seu bebê. Pode estabelecer horários flexíveis para a entrada e saída e para as idas para mãe amamentar. Além disso pode organizar um local para ela amamentar. Os cuidadores devem receber orientações de como armazenar, preparar e fornecer o leite materno com segurança para o bebê. Todos devem entender o esforço que ela faz para manter a amamentação. O elogio é muito importante. Reforce os benefícios para o bebê. Se o bebê está na creche, a rede de apoio direta da mãe pode se organizar para levar o bebê um pouco mais tarde ou buscá-lo mais cedo. Pode ajudá-la nos afazeres da casa, cuidar da roupa e fazer uma comidinha.

4.6 - Comunidades em geral, trabalhadores dos meios de transporte, de equipamentos de lazer, lojas, espaços públicos.

A mulher que amamenta deveria ser acolhida e valorizada em todos os espaços que frequenta, afinal ela está cuidando de um bebê que será um futuro cidadão e isso é de interesse de todos, por isso devemos agradecê-la e cuidar para que tenha todos os incentivos e recursos para continuar a amamentar.

4.7 - Grupos de mães, de cuidados com o bebê, de amamentação.

Os grupos de mães são importantes pela possibilidade de troca de experiência, pelo apoio que é recebido e pelo sentimento de pertencimento que surge. Os grupos blindam um pouco as interferências negativas às quais as mães estão sujeitas.

4.8 - Companheiros e companheiras.

O companheiro (a) pode ajudar dando apoio e valorizando a mulher pela decisão de amamentar.  Pode cuidar do bebê, valorizar o trabalho que ela dispende no ato de cuidar e de amamentar. Pode dar um ajuda prática, ficar junto, elogiar e fortalecê-la para que ela saiba o quanto é importante e o quanto ela faz bem ao bebê.

4.9 - Família e amigos próximos.

A família próxima e os amigos podem ajudar fazendo companhia para a mulher, pode aprender maneiras de oferecer o leite materno de maneira segura no copinho ou colher, para garantir a amamentação. Pode acompanhá-la em uma compra ou em um pequeno passeio. Reforce para a mulher o seu papel importante em manter a amamentação. Reconheça as dificuldades dela e dê suporte. Não forneça ajuda que possa atrapalhar a amamentação como por exemplo sugerir dar uma mamadeira porque é mais fácil. Tranquilize-a reafirmando que o bebê vai ficar bem enquanto ela estiver no trabalho e que todos vão ajudá-la se o bebê for ficar em casa. Dê ajuda prática. Se trabalhar fora ela vai ficar mais sobrecarregada com os afazeres de casa. Arrume a casa, lave uma roupa, faça uma comidinha gostosa. Faça com que ela se sinta valorizada pelo esforço que faz para manter a amamentação

5 - Conclusão:

Muitas vezes, as pessoas e a sociedade veem a amamentação como uma questão pessoa e de responsabilidade exclusiva da mulher, o que é um grande equívoco, pois quando os pais, famílias e a sociedade apoiam a mulher que amamenta, as taxas de amamentação aumentam.  Precisamos desenvolver uma abordagem que agregue desde as pessoas do entorno próximo da mulher, a comunidade onde vive e seu local de trabalho para criar um entorno propício, que permita às mães iniciar e manter a amamentação. 

O ser humano é solidário, cuida e toma atitude positiva quando observa uma situação de risco. Se o desmame precoce fosse identificado como um risco para a criança, para a família e para a sociedade, todos tomariam as atitudes necessárias que pudessem permitir uma amamentação adequada. Uma rede de apoio confiável se estabeleceria e essa mulher poderia se dedicar a esse período sem se preocupar com todas as interferências danosas que influenciam na sua decisão de amamentar. Estaria segura, acolhida e valorizada. Esse deveria ser o conceito de responsabilidade  de todos. 

Para saber mais:

  1. Mês da Mulher: contagem da licença-maternidade começa a partir da alta da mãe ou do recém-nascido: Decisão do STF buscou suprir omissão legislativa para casos de bebês que necessitam de internações mais longas, como os prematuros.

https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=503971#:~:text=Em%20outubro%20de%202022%2C%20o,o%20que%20ocorrer%20por%20%C3%BAltimo

  1. https://aps.saude.gov.br/ape/promocaosaude/norma#:~:text=A%20Norma%20Brasileira%20de%20Comercializa%C3%A7%C3%A3o,idade%2C%20como%20leites%2C%20papinhas%2C
  2. http://www.ibfan.org.br/site/

Word Breastfeeding Week. https://waba.org.my/

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Criado por:

Honorina de Almeida - Dr Nina

Pediatra, Doutora em Desenvolvimento Infantil
Especialista em Aleitamento Materno/IBCLC
Sócia Fundadora da Casa Curumim e Fundadora do Instituto Ery