Na gestação é natural que a família se concentre no desenvolvimento e bem-estar do bebê intraútero e no parto. Após o nascimento o foco muda para a amamentação. Meu bebê vai conseguir mamar, vou produzir leite para alimentá-lo, questões que geram alguma ansiedade, mas que se resolvem após algumas semanas.
Nessa fase também acontecem mudanças comportamentais e psicoemocionais na mulher e na estrutura organizacional da família. De filha ela passa a ser mãe, de casal.
A depressão pós-parto é uma condição comum que afeta muitas mulheres após o nascimento de um bebê, por isso devemos estar atentos a essa situação.
No mundo a incidência é de cerca de 10 a 15% de mulheres e no Brasil 1 em cada 4 mulheres podem apresentar o quadro.
Sabemos pouco sobre o assunto, apenas metade dos pediatras reconhecem os sinais.
O suicídio é uma das maiores causas de morte materna até que se complete o primeiro ano de vida da criança.
Pode durar até 2 anos, mas 2 sinais são muito importantes para podermos suspeitar, a anedonia, um estado de ausência de prazer nas atividades, principalmente com o bebê e o humor triste; esses sintomas não são típicos, mas sugerem fortemente um quadro depressivo
Muitos dos sintomas de depressão pós-parto podem ser encontrados no blues puerperal, que é uma condição considerada fisiológica, normal pela qual mais de 80% das mulheres passam no período puerperal:
- angustia;
- irritabilidade
- insônia
- perda do apetite ou compulsão alimentar
- fadiga;
- sentimento de culpa;
- disforia podem estar presentes;
- pensamentos suicidas.
O fator de risco mais importante é a depressão na gestação ou episódio anterior na vida da mulher/ gestação na adolescência, dificuldades familiares e sociais, problemas no relacionamento, problemas financeiros.
Quando uma mulher apresenta sintomas psicoemocionais no pós-parto , precisamos parar um momento e pensar se esses sintomas podem ser de depressão pós-parto ou mesmo de outros quadros de doença mental.
É importante se perguntar:
- Existe histórico de problema psiquiátrico anterior?
- Quando esses os sintomas começaram e há quanto tempo eles estão presentes?
- Ela está deprimida, mas tem prazer em cuidar do bebê?
- Qual a intensidade dos sintomas?
- Existem outras dificuldades associadas?: está sozinha e sem rede de apoio, está com dificuldade na amamentação, refere dor para amamentar, principalmente a dor sem sintoma aparente ou dor exacerbada não compatível com a dificuldade, problema crônico de amamentação, apresenta humor deprimido, a pessoa continua triste mesmo se tudo está bem e algo bom acontece.
E na amamentação? Qual o impacto?
As dificuldades na amamentação são frequentes no pós-parto e na sua maioria são resolvidas nas primeiras duas semanas após o nascimento do bebê. Nas situações que se prolongam precisamos cuidar, pois as dificuldades na amamentação podem ser um fator de risco para o desenvolvimento da Depressão Pós-Parto, e também um sintoma. Atenção com as dificuldades prolongadas de amamentação, podem sem uma falha no manejo, mas também um sintoma. Outros sinais: Fissura mamilar recorrente, mamilos muito comprimidos, mostrando uma tensão perioral e mandibular no bebê, ingurgitamento mamário frequente que sugerem uma irregularidade na mamada, irritação do bebê nas mamadas, recusa em mamar, ou mamadas muito frequentes, afastamento do corpo da mãe e/ou muito solto no colo durante a mamada
A amamentação muitas vezes é vista como um fardo a mais para a mulher carregar, no entanto, se bem conduzida e apoiada é uma parte importante do tratamento, pois mesmo quando não exclusiva, a amamentação mostrou ser um fator protetor contra a DPP.
Um estudo brasileiro, em uma avaliação com 287 mulheres um mês após o parto, observou menos presença de sinais depressivos quando a amamentação era satisfatória.
O aumento da prolactina, e da ocitocina, que têm papel fundamental na regulação do comportamento materno, com ação positiva sobre o stress, melhora do humor, efeito antiansiolítico, e regulação das emoções podem explicar por que a amamentação ajuda na regulação dos sintomas da mulher com Depressão Pós-Parto. Apresentam menos sintomas de fobia social, depressão e ansiedade.
É importante: ajudar a construir uma rede de apoio efetiva.
Efeitos positivos da amamentação: É importante ajudar e apoiar a mãe para que ela possa amamentar.
Esses sintomas devem ser escutados e investigados, mas podem ser transitórios como no Blues puerperal, mas se permanecerem por mais que duas semanas é um sinal importante de Depressão Pós-Parto.
Não está escrita no rosto, precisamos dar oportunidade para a família falar.
Na gestação quem vê a mulher é o obstetra, a doula, a parteira, a enfermeira obstetra, no puerpério e primeiras semanas acrescenta a essa lista, o pediatra, a consultora de amamentação, somos nós que acompanhamos a família. É nossa responsabilidade suspeitar que algo não vai bem.
Mas como abordar essa situação?
- Conheça o assunto, estude, leia, se mantenha informado
- Escute a mulher e a família
- Faça uma anamnese completa
- Veja se existe histórico de doença mental
- Utilize as habilidades de comunicação e aconselhamento para que a mulher sinta confiança em contar mais sobre ela
- Observe a mamada
- Pergunte sobre o bebê
- Mantenha a mente aberta
- Se suspeitar de algo, Acompanhe mais de perto e com mais frequência
- Explique o que é depressão pós parto…
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Criado por:
Honorina de Almeida - Dr Nina
Pediatra, Doutora em Desenvolvimento Infantil
Especialista em Aleitamento Materno/IBCLC
Sócia Fundadora da Casa Curumim e Fundadora do Instituto Ery